A EDUCAÇÃO PARA LIDAR COM AS CAUSAS DA INSEGURANÇA NO TRÂNSITO

sábado, 24 de setembro de 2011 Karine Winter

 


...Os especialistas, na tentativa de entender o Sistema de Transporte, adotam uma visão fragmentada da realidade, subdividindo-o em: homem, veículo, via e meio ambiente. Em geral, educadores, engenheiros, policiais, psicólogos, profissionais de marketing, médicos, etc, atuam isoladamente sobre estas partes do Sistema de Transporte e acreditam que o ensino de regras para as crianças e adolescentes, a legislação e a fiscalização podem ser mecanismos de mudança de comportamentos e de controle suficientes para evitar acidentes.

Os Sistemas em que a presença humana é prioritária, como o Transporte por exemplo, são considerados complexos e não funcionam como o modelo fragmentado (D'AMBRÓSIO, 1998). No Sistema de Transporte predomina o processo de negociação, que ocorre na maioria das situações do dia-a-dia do trânsito, principalmente nas áreas e nos horários onde não há presença constante da fiscalização. A qualidade do trânsito depende, portanto, da relação entre as pessoas e não somente de mecanismos de controle por legislação ou fiscalização.

Ações educativas que promovam a formação de atitudes podem contribuir para um trânsito mais humano, melhorando a qualidade de vida. Entretanto, a visão fragmentada de homem e de mundo tem influenciado a ação dos educadores de trânsito brasileiros ou estrangeiros, que formulam seus objetivos sem ouvir a criança e o adolescente, sem compreender sua vivência e sua percepção sobre a realidade do trânsito. Enfatizam também o ensino de regras e o treinamento de habilidades como únicas formas de atingir o objetivo de reduzir o envolvimento em acidentes. Consideram um ambiente ideal, em termos de sinalização e de comportamento das pessoas.  

No entanto, o que a criança e o adolescente vêem na rua não é este ambiente ideal. Esta incompatibilidade entre o que é ensinado como adequado e aquilo que observam na rua sem possibilitar a crítica necessária, os confunde e, no final deste processo, os levará a desacreditar nos conteúdos aprendidos. Na prática, eles estarão aprendendo que no trânsito, o que vale é a "lei do mais forte" ou a do “mais esperto” e que as regras devem ser cumpridas para que não “levem a pior”. Além disto, as abordagens pedagógicas utilizadas atualmente na Educação para o Trânsito são desenvolvidas de acordo com uma concepção mais tradicional, sob a influência de correntes educativas pragmáticas e comportamentais.

A forma de ensinar baseia-se na transmissão de conteúdos, com o ensino informativo das regras de trânsito, sem a reflexão necessária, sem desenvolver os valores humanos. São os técnicos que identificam os conceitos e aspectos a serem abordados no aprendizado, bem como produzem os instrumentos necessários, sem consultar o público alvo e, portanto, sem considerar o ponto de vista Infanto-juvenil, sua percepção e sua expectativa.

e acessado em 24/09/2011.