A cada dia é urgente e notória, a necessidade de um novo paradigma e de um novo olhar para a educação em nossa sociedade, pois precisamos rever alguns conceitos. Falando especificamente de educação para o trânsito, passou-se por muitos anos, tentando educar nossas crianças para que fossem " futuros bons-motoristas". Ainda não se tinha muito claro que, por diversos fatores culturais, sociais e econômicos, muitas delas, jamais viriam a ser condutores. Esqueceu-se sim, de que todas são pedestres, agentes do trânsito e que convivem e compartilham um espaço público.
Atualmente, mesmo que a passos lentos, a educação para o trânsito, está sendo direcionada para a construção de valores, para a formação de cidadãos mais éticos e conscientes de seus direitos e deveres, ou seja, para a formação de cidadãos mais preparados para o exercício pleno da cidadania e para o convívio em sociedade. Acredito que daqui para frente, estaremos colhendo frutos mais consistentes dessa nova visão de educação para o trânsito. Porém, se de um lado, temos a educação para o trânsito direcionada e voltada para a construção de uma postura ética e cidadã, de outro, percebemos que com o desenvolvimento da indústria automobilística os carros estão cada vez mais confortáveis, luxuosos e potentes, tornando-se para uma grande parcela da população brasileira a representação e a expressão do status e do poder. As montadoras apostam no constante aumento das vendas, através de propagandas que incitam a competição, a violência e a busca incessante de poder através dos veículos.
Neste sentido, a aprendizagem deve priorizar o ser humano e os interesses da coletividade no trânsito. O que vemos no Brasil ainda, é a cultura do ter em detrimento da cultura do ser e o comportamento egoísta e ego centrista evidenciados, de todos que circulam no trânsito. Marilsa Aparecida Alberto Assis Souza cita em seu texto intitulado Piaget e Trânsito, que: “...a aprendizagem deve preparar as pessoas para a autonomia no trânsito. No inicio a inteligência está calcada em ações motoras, centradas no próprio indivíduo, numa relação egocêntrica de si para si mesmo, esta fase é chamada de anomia e é caracterizada pela ausência de regras. A medida em que cresce e percebe a existência do outro e, a necessidade de seguir regras inerentes ao convívio social, ocorre então, o deslocamento do eixo de suas relações de si para o outro, depara-se com a fase da heteronomia. A verdade e a decisão estão centradas no outro, que geralmente é um adulto, predominando a obediência a autoridade, mas não existindo a reflexão. É nesta fase, que o individuo só respeita as regras em função do outro. A autonomia chega quando o ser humano está apto a cooperativamente construir um sistema de regras morais e operatórias necessárias à manutenção de relações permeadas pelo respeito mútuo. A autonomia, pressupõe a capacidade de governar a si mesmo, guiado não só pelo respeito a si próprio, mas também pelo respeito ao outro, reconhecendo-o como um ser semelhante.”
Fica claro que, a aprendizagem só será significativa, se a pessoa compreender a necessidade dos valores e dos princípios morais e éticos serem efetivados no cotidiano, nas ações diárias. A priori, a informação e a orientação devem permear o processo da aprendizagem. Num segundo momento, se não houver a compreensão das informações e orientações, a fiscalização deve surgir como uma forma de chamar o individuo para a reflexão, quer seja através de uma abordagem educativa, quer seja através da autuação.
Autora: Karine Winter