Me questiono sempre quando chegamos no
mês de setembro e me deparo com órgãos, entidades, CFCs - Centro de Formação de
Condutores – escolas, DETRANs – Departamentos Estaduais de Trânsito, entre
outros, na correria e até numa certa competição, para divulgarem campanhas,
promoverem palestras e ações educativas voltadas a Semana Nacional do Trânsito,
que ocorre anualmente de 18 a 25 de setembro. Será que só lembramos do temas
pertinentes ao trânsito e da sua urgente abordagem nesta época do ano? Passada essa semana, tenho a impressão que
muitos acreditam que não precisamos mais
levar o tema e suas perspectivas à mídia e à sociedade, para discutirmos os
acidentes, suas causas e consequências, o controle emocional no trânsito ou a
falta dele, as diversas formas de circulação e a mobilidade urbana, as
responsabilidades e os deveres de cada um no trânsito seja enquanto pedestre, ciclista,
condutor, passageiro, motociclista, motorista profissional, etc.
Campanhas educativas com curto período
de duração inviabilizam o desenvolvimento de um trabalho sistemático e contínuo
de conscientização em relação a um trânsito mais seguro. Sabe-se que as
campanhas na mídia, não são as únicas ferramentas que temos para este tipo de
trabalho. Porém, é inegável que se constituem num excelente recurso para que se
possa atingir o objetivo de um trânsito mais humanizado e por consequência a
redução das trágicas estatísticas de acidentes. Percebo a cada dia que é
urgente e notória, a necessidade de um novo paradigma e de um novo olhar para a
educação em nossa sociedade. Precisamos rever alguns conceitos. Falando
especificamente de educação para o trânsito, muitos educadores ainda tentam
educar nossas crianças para que sejam " futuros bons-motoristas". Muitos ainda não tem claro que, por diversos
fatores culturais, sociais e econômicos, muitas delas jamais virão a ser
condutores. Esquecemos sim, de que todas são pedestres e agentes do trânsito e
que convivem e compartilham o espaço
público do trânsito.
Necessitamos de uma educação para o
trânsito sistemática e contínua, direcionada para a construção
de valores, para a formação de cidadãos mais éticos e conscientes. Uma educação
para o trânsito voltada para a sensibilização das pessoas. Não através da terapia de choque,
mas uma educação que esteja voltada para o emocional, para a auto reflexão,
para que cada um saiba ligar seu “GPS interno” - que saiba programar-se com antecedência
para circular, buscando sempre caminhos alternativos que evitem os locais de maior
movimento, auxiliando na redução dos gargalos do fluxo de trânsito – para que
cada um, possa absorver qual é o seu verdadeiro papel na sociedade. O papel
de colaborar para o coletivo e não para
o individual, o de colaborar para a humanização.
Precisamos de mecanismos que agreguem
às formas de abordar sistematicamente o assunto nas escolas, empresas,
entidades, igrejas, etc, É necessário
promover a educação pautada em
valores, oportunizando a formação de cidadãos conscientes de seus direitos e sobretudo
de seus deveres, ou seja, mais preparados para o exercício pleno da cidadania e
para o convívio em sociedade.
A educação para o trânsito não pode mais ser vista apenas como o repasse de regras, normas e leis de trânsito. Precisa ser entendida como um mecanismo muito favorável para a melhoria da convivência, da humanização e da qualidade de vida das pessoas.
Não precisamos de mais números no trânsito, precisamos salvar vidas.
Autoria: Karine Winter
Imagem: paradapelavida
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